Para Jonas, pastor de uma
igreja muito ativa e crescente, o dia começou como tantos outros. Ele só não se
preparara para a notícia que receberia ainda naquelas primeiras horas do dia.
"Marta, sua filha mais velha", relatou-lhe sua esposa, "cortou o
cabelo".
Totalmente descontrolado,
Jonas perguntou rispidamente, mas sem esperar resposta: "O que você quer
comigo? Está querendo envergonhar-me, acabar com o meu ministério?".
Movido por uma ira
descomedida, desafivelou o cinto, dobrou em duas voltas e bateu em Marta até
que os vergões se desenhassem em suas costas e pernas. Deixando-a caída, saiu!
Duas horas depois, recebeu
a notícia mais devastadora de sua vida: Marta havia derramado álcool sobre todo
o corpo e ateado fogo. Jonas correu mais uma vez, agora desesperado, e
encontrou no mesmo quarto sua filha agonizando com queimaduras profundas.
Naquele mesmo dia, à tarde, Marta morreu no ambulatório de um hospital.
Embora os nomes e alguns
detalhes da história acima sejam fictícios, ela é verdadeira. E pior, ela se
repete, claro que sem os mesmos extremos, quase todos os dias em alguma família
evangélica brasileira.
33% dos casos registrados
de agressão física contra menores ocorreram em razão do "fanatismo
religioso". A violência contra jovens e crianças por motivos e com
justificativas “bíblico-religiosas” é sumamente complexa, porém mais comum do
que imaginamos, na intimidade dos lares cristãos. A autoridade, que por ser bíblica
não pode ser contestada, endossa por vezes a falta de equilíbrio em atos e a
medida ponderada que deve levar em conta o valor do seu peso versus
consequências, norteiam enfim... Uma questão de "temperança".
Assim, na relação vertical
entre pais e filhos, muitos lançam mão da violência, que descamba para atos de
privação, cárcere, agressão física, maus tratos, podendo, até mesmo, provocar o
abandono do lar. Muitas vezes, a criança foge e vai somar-se a muitos
"meninos de rua”. Precisamos tornar o cristianismo brasileiro menos
antipático aos nossos filhos e família.
Ao longo dos anos, e ainda
nos dias de hoje, diversas irmãs de todas as idades, estão sendo oprimidas por
causa da questão do cabelo. Durante muito tempo vem sendo ensinado que elas não
podem cortar os cabelos, pois se fizerem isso, certamente perderão a salvação!
É sobre o ensino errado de
que as mulheres cristãs não podem cortar o cabelo que vamos nos deter.
Toda distorção precisa de
um suposto argumento e, no caso que estamos estudando, os fariseus modernos
conseguiram achá-lo na Bíblia.
Obs. Existem
pessoas que acham respaldo para qualquer besteira na Bíblia, basta distorcer o
seu texto e tirá-lo do contexto.
O texto predileto (aliás,
o único), usado para argumentar que as mulheres não podem cortar o cabelo,
supostamente encontra-se na Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo
11, do versículo 1 ao 16.
Segundo afirmam, este
texto ensina que a mulher não deve cortar o cabelo. Dizem que o cabelo crescido
é sinal de poder (I Co 11.10), ou seja, quanto maior o cabelo, mais fogo!
Vemos que o argumento é
pobre e desconsidera todas as regras de interpretação bíblica e despreza o
contexto da Palavra.
Vejamos a seguir o que
realmente o texto acima descrito quer ensinar.
Para que possamos
interpretar corretamente um texto bíblico devemos levar em conta todas as
regras da hermenêutica bíblica.
O que Paulo queria
ensinar? Ele mesmo afirma no versículo três, o que vai tratar a partir de
agora.
Paulo neste texto quer
ensinar sobre o princípio de autoridade e submissão, mas precisamente a
submissão da mulher em relação ao seu marido.
Paulo diz: “Quero,
entretanto, que saibais...”; o que Paulo queria que os Coríntios soubessem? A
hierarquia: Deus > Cristo > Homem > Mulher.
Versículo 3 – “Mas quero que saibais que Cristo é
a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de
Cristo”.
A Palavra cabeça aqui é
símbolo de autoridade e primazia, portanto: Deus é o Cabeça de Cristo; Cristo o
cabeça do homem e o homem o cabeça da mulher!
Precisamos estar atentos
com o uso da palavra “cabeça”, pois ela poderá estar se referindo em alguns
momentos a autoridade ou em outros a cabeça (parte do corpo humano).
Para continuarmos a
meditar no texto precisamos nos firmar no princípio descrito acima; logo, grave
bem: Paulo deseja ensinar sobre a submissão da mulher em relação ao seu próprio
marido. É necessário ainda conhecermos o contexto que envolve este texto.
Continuemos então...
A questão é que a
insubmissão em Corinto a prostituição feminina e a insubmissão tinham um grande
incentivo na influência do culto pagão no templo de Afrodite.
Corinto era uma cidade
portuária muito movimentada e localizada em um ponto bastante estratégico.
Recebia gente de todos os lugares do império romano que iam até lá por causa do
esporte; comércio e do culto à deusa da fertilidade.
Toda cidade grande e
portuária, por si só, já é movimentada e tende a libertinagem, entretanto,
Corinto tinha um ponto a mais para propagar a promiscuidade: O templo da deusa
da fertilidade. Neste templo existiam prostitutas; servas da deusa que
trabalhavam dentro do templo.
Os povos antigos cultuavam
vários deuses e dentre estes, um dos cultos mais famosos eram em honra aos
deuses da fertilidade. A boa colheita, a reprodução dos rebanhos ou a
fertilidade de um casal; tudo isso e muito mais, era atribuído à deusa da
fertilidade. Quando a semente era semeada no solo, ou quando se desejava o
sucesso na criação, por exemplo, trazia-se uma oferta de animal ao templo de
Afrodite; o que sobrava do sacrifício era vendido no açougue do templo; daí o
ensino de Paulo em I Co 8.1-13; 10.14-33 . Entretanto, o culto não ficava
somente nisso, os homens tinham relação sexual dentro do templo com as
prostitutas (sacerdotisas de Afrodite) acreditando que isto traria “bênçãos”
sobre a lavoura ou rebanho. As prostitutas do templo eram marcadas e separadas
diante das demais mulheres da sociedade; estas prostitutas andavam com a cabeça
rapada! (Ver os monges budistas orientais e as mulheres que rapam a cabeça nos
terreiros, por exemplo).
Vale lembrar ainda que na
sociedade oriental da época, o uso do véu marcava a submissão da mulher em
relação ao marido, ou da mulher solteira em relação ao seu pai, etc... Tal como
em algumas culturas islâmicas e orientais de hoje em dia.
De posse dessas
informações, agora poderemos interpretar corretamente o texto:
Após mostrar o assunto no
versiculo 3 o apóstolo Paulo, vai discorrer sobre o tema e colocá-lo dentro do
contexto da sua época.
Versículo 4 – “Todo o homem que ora ou profetiza,
tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça”.
A primeira palavra
traduzida por cabeça neste versículo se refere à parte do corpo; a segunda
palavra traduzida por cabeça neste versículo é símbolo de autoridade superior e
submissão, logo, se naquela sociedade um homem orasse com a cabeça coberta era
um desrespeito para com o Senhor por causa do costume da época.
Versículo 5 – “Mas toda a mulher que ora ou
profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como
se estivesse rapada”.
Do mesmo modo, uma mulher
que orasse com a cabeça descoberta desonrava a sua cabeça, ou seja, o seu
marido. Imagine um visitante na igreja; o que ele poderia pensar da família
cristã? Qual o julgamento que ele teria sobre a reverência e a ordem no culto
cristão?
Nos dias de hoje, o véu na
sociedade ocidental cristã, não é símbolo de submissão da mulher, mas temos
outros costumes sociais, como, por exemplo, ser falta de respeito um homem
entrar na igreja de boné ou chapéu, pois até mesmo diante de um juiz ímpio,
este não seria aceito.
Versículo 6 – “Portanto, se a mulher não se cobre
com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se
ou rapar-se, que ponha o véu”.
Muitas pessoas têm
dificuldade em entender que existe uma diferença entre "cortar" e
"tosquiar" na língua portuguesa e também em qualquer outro idioma.
Consultei dicionários e eles mostram que tosquiar não está falando de cortar o
cabelo, mas de rapar a cabeça.
Tosquiar:
Aparar rente (a lã das ovelhas); cortar rente (o cabelo das pessoas).
Tosquiar: No
grego a palavra é “Keirõ”, também usada para barbear-se, isto é, rapar-se com
uma navalha.
Fonte: Novo
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3ª. Edição, Século XXI, ©2004
Se a mulher insistia em
não colocar o véu; em não cobrir a sua cabeça em sinal de submissão, então por
que não rapar de vez a cabeça como uma sacerdotisa? “é como se a tivesse
rapada”... Seria considerada uma prostituta; o culto cristão seria confundido
com o culto pagão. Mas se isso era uma vergonha, então custava colocar o véu?
Note que o problema não estava apenas em rapar de vez o cabelo, mas também em
cortar o cabelo curto demais, pois, como iremos ver no versículo 15, o cabelo
crescido a um ponto que pudesse cobrir a cabeça, substituiria o véu.
Versículo 7-9 – “O homem, pois, não deve cobrir a
cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem.
Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o
homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem”.
Nestes versículos o
apóstolo mostra o porquê do homem não cobrir a cabeça; ele não estava sujeito a
sua mulher e sim a mulher estava sujeita a ele; o homem estava sujeito ao seu
Senhor que lhe subordinou toda a criação e, portanto, como cabeça, é o chefe da
sua casa, tal como Adão era o representante da criação. Primeiro Deus criou o
homem e depois, para que ele não estivesse só, lhe deu uma companheira e
adjutora.
Versículo 10 – “Portanto, a mulher deve ter sobre a
cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”.
Por causa do exposto
acima, a mulher deveria ser submissa ao marido, e, como sinal disso, deveria
usar o véu. Paulo ainda cita o exemplo dos anjos como símbolo de submissão e
ordem; se no reino espiritual existe ordem e decência, quanto mais na igreja; e
vale lembrar que os anjos muitas vezes presenciam o nosso culto a Deus!
Versículo 11,12 – “Todavia, nem o homem é sem a
mulher, nem a mulher sem o homem, no SENHOR. Porque, como a mulher provém do
homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus”.
Pode parecer um tanto
machista para algumas mentes carnais o ensino dos versículos anteriores,
entretanto, para evitar distorções, Paulo diz que tanto homem como mulher são
interdependentes! Todo homem, exceto Adão, é obvio, nasceu de uma mulher.
Versículo 13,14 – “Julgai entre vós mesmos: é decente
que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é
desonra para o homem ter cabelo crescido?”.
O argumento agora parte
para um apelo a consciência individual de cada um e a observação da sociedade
em redor. Era estranho um homem com cabelo comprido! Isto para os Gregos,
dentro daquele contexto cultural, porque para os Judeus, era normal cabelos
longos.
Versículo 15 – “Mas ter a mulher cabelo crescido
lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”.
Ao contrário, era honroso
para a mulher ter cabelo comprido, pois este substituía o uso do véu, mostrando
a humildade e submissão da mulher. Mais uma vez observamos a contextualização
cultural entre as mulheres gregas e judias. Na antiguidade, uma mulher, através
da maneira como cortava seus cabelos, podia transmitir lealdade ou insubmissão
ao seu marido; hoje, contudo, a submissão de uma mulher é transmitida pela
aliança que carrega no dedo da mão esquerda. Se o uso de cabelos longos naquela
época simbolizava o mesmo pudor da utilização do véu, no mundo contemporâneo já
não é assim.
Versículo 16 - “Mas, se alguém quiser ser
contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”.
O costume aqui condenado
era o de ser contencioso (criar controvérsia, debate, contenda).
A Aplicação do texto de I
Co 11:1-16 para a igreja de hoje seria:
1º) - O ensino é imutável,
logo, a mulher deve ser submissa ao homem. É justamente isto que está em foco!
2º) - Se na sociedade na
qual a igreja local estiver houver algum costume que seja sinal da submissão da
mulher ao homem; ele deverá ser respeitado. Se, ao contrário, houver alguma
prática que seja sinal de prostituição ou insubmissão da mulher, ela deverá ser
rejeitada pela igreja local. Lembre-se de que o costume é variável!
Por exemplo: Se no Brasil,
toda mulher que usasse blusa por dentro da calça ou saia fosse prostituta, os
pastores deveriam aconselhar às irmãs a não colocarem a blusa por dentro da
calça ou da saia para que as mesmas não fossem confundidas com prostitutas. O
problema em foco estaria na prostituição e não na blusa.
3º) - Em nossa sociedade
não há o costume das mulheres usarem véu na rua. Cortar o cabelo para a
sociedade ocidental, não significa insubmissão da mulher, logo, não é proibido
às mulheres cristãs o cortar o cabelo. Uma irmã que corta o cabelo, não será
confundida com uma prostituta na rua, ou com uma mulher desobediente ao seu
marido.
4º) - Na maior parte dos
países do oriente médio e dos países islâmicos, é usado o véu pelas mulheres,
logo, se formos morar em um destes países, deveremos seguir os seus costumes.
5º) - Algumas, não poucas,
mulheres que se orgulham de seus cabelos, mais são rebeldes e insubmissas aos
seus maridos, além de “bater de frente” com os seus respectivos pastores, pais,
etc...
6º) - Se for para
interpretar ao “pé-da-letra”, as mulheres que se orgulham dos seus cabelos
enormes, não deveriam prender os mesmos, pois... Cadê o véu?
Em I Tm 2.9 está escrito:
”... não com tranças”; quando olhamos para as irmãs que dizem não poder cortar
o cabelo, observamos que 99% se envergonham dos seus cabelos e usam tranças,
coques e tiaras para prender os cabelos, que, por sinal, deixam de servir como
véu.
7º) - Se, porventura,
alguém disser: A Bíblia mudou? Você responderá: É claro que não! O ensino
continua, ou seja, a mulher deve ser submissa; a prática continua, ou seja,
devemos nos abster de todo costume que nos confunda com os ímpios; o que não
podemos aceitar, porem, é que um costume da antiguidade seja colocado como se
fosse de hoje; não podemos aceitar que um simples costume seja condição
fundamental de salvação quando ele não significa nada para os dias de hoje;
isto seria colocar as tradições em igualdade com a Bíblia!
8º) - Quando Jesus veio ao
mundo, as mulheres foram libertas do preconceito e do jugo imposto pela
sociedade; elas continuam submissas aos seus próprios maridos, entretanto, o
machismo do farisaísmo deve ser colocado de lado.
Concluímos que a Bíblia
não proíbe as mulheres de cortar o cabelo nos dias de hoje e que o texto de I
Co 11:1-16 trata da submissão da mulher e não está em foco o cabelo. Vimos
ainda que em nenhum outro texto está proibido o corte de cabelo para as
mulheres e nem tão pouco
está escrito o contrário,
ou seja, que as mulheres devam deixar o cabelo crescer.
Embora a Palavra seja
clara quando diz que o cabelo é a glória da mulher e, portanto, ela deve
deixa-lo comprido, não encontro nada que a proíba de cortá-lo. Entendo que a
mulher não
deve rapar a cabeça e nem
cortar o cabelo curto, mas nunca vi nenhuma passagem que a proíba de aparar
suas pontas. Querer afirmar isto é ir além do que está escrito. (I Co 4:6)
E por último, devemos
considerar que ser evangélico não significa pertencer a uma cultura própria e
separada. Cristo nunca intencionou isso. Tanto que na oração sacerdotal de João
17, ele pediu ao pai que não retirasse as pessoas do mundo, mas que as livrasse
do mal, cito:
Jo 17:15 – “Não peço que os tires do mundo, mas que os
livres do mal”.
Fonte: Escola Dominical - Distorções doutrinárias parte III - O cabelo das mulheres - http://solodeogratia.wix.com/solodeogratia#!ebd-060113/c1s9a
Fonte: Escola Dominical - Distorções doutrinárias parte III - O cabelo das mulheres - http://solodeogratia.wix.com/solodeogratia#!ebd-060113/c1s9a
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